Café brasileiro: quase 300 anos de história cheia de sabor

Café brasileiro: quase 300 anos de história cheia de sabor

O Brasil está entre os líderes de produção e consumo da bebida; café brasileiro é hoje reconhecido em todo o mundo

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Em 1727, as primeiras mudas de café chegaram ao Brasil pelo Sargento-Mor Francisco e Mello do território guianês. O pretexto era resolver litígios territoriais e estes pés de café foram, pois, plantados no estado do Pará, na cidade de Belém. O Hub do Café traz um panorama sobre o café brasileiro.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por conta das circunstâncias climáticas, de relevo e de solo, em meados do século XIX, o café brasileiro ganhou força no Vale do Paraíba. Dessa forma, nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, posteriormente Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná. Assim, iniciando um novo ciclo econômico no Brasil.

Com o tempo, a cultura tornou-se o principal produto exportado pelo Brasil com a introdução do café brasileiro no mercado internacional. Sendo, assim, por quase 100 anos a principal riqueza nacional. Pouco tempo depois, em 1850, o Brasil já era o maior produtor mundial com 40% da produção total.

Nessa época, a cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro, era a capital do café do mundo. De acordo com informações do Sumário Executivo do Café, a posição de maior produtor do mundo é do Brasil por mais de 150 anos. E em volume total houve o preparo de 47,7 milhões de sacas de café na safra 2020/21.

Café brasileiro: espécies mais cultivadas

No Brasil, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), existem em torno de 124 espécies de cafés. Mas, o Café Arábica (Coffea arabica) e o Café Conilon (Coffea canephora) – mais conhecido como robusta – são as espécies mais produzidas.

O tipo arábica predomina a produção do Brasil. Em 2021, por exemplo, ano de bienalidade baixa do café, as lavouras de pé de café arábica produziram 31,42 milhões de sacas. Isto de acordo com a Conab. Já o pé de café do tipo conilon produziu 16,29 milhões. A expectativa para este ano, 2022 – ciclo cafeeiro alto – é que a produção de café arábica alcance 35,7 milhões de sacas do produto beneficiado. O conilon, 17,7 milhões.

Café brasileiro tipo arábica

“A safra de café arábica está estimada em 35.711,9 mil sacas de café beneficiado, acréscimo de 13,6% em comparação à safra anterior. Apesar do ciclo positivo, as fortes intempéries climáticas em 2021 afetaram significativamente a produtividade. Que está estimada em 23,6% inferior ao último ano de alta performance”, estima Guilherme Ribeiro, Presidente da Conab.

“A safra de café conilon foi estimada em maio de 2022 em cerca  de 17.716,4 mil sacas de café beneficiado, aumento de 8,7% em relação à safra anterior, puxado pelo incremento de produtividade que tem sido recorrente a cada ano. Esta espécie vem contando com incremento tecnológico ano a ano e tem potencial de bastante crescimento”, avalia Ribeiro.

Diferenças entre as espécies de café

A espécie arábica possui maior extensão de área cultivada, entretanto, em determinadas regiões a espécie robusta é predominante. Diante disso, apesar de ambas serem do gênero Coffea, as características dessas espécies apresentam diferenças nas plantas e, também, no sabor.

Café – Tipo Arábica

A formação das mudas do café arábica ocorre por meio de sementes. No entanto já existem pesquisas avançadas para viabilizar a utilização de estacas para sua reprodução. Já o robusta pode ter mudas formadas por meio de clones ou sementes.

O grão de arábica possui menores teores de cafeína, assim como menores teores de sólidos solúveis. Sua bebida geralmente é mais aromática e ácida, porém menos encorpada. Quando se compara com o robusta, que possui maiores teores de cafeína e sólidos solúveis, por isso tal espécie é usada para produção de café solúvel, com grãos muito utilizados para fazer “blends” de cafés e menor teor de açúcar.

Pé de café

As folhas da planta da espécie arábica são verdes mais escuros e menores. Os frutos, portanto, são maiores e ovalados, além de ficarem mais grudados nas plantas. Em contrapartida, o café robusta tem folhas de coloração verde mais claras e maiores, os frutos são menores, esféricos e ficam menos aderidos à planta.

Café brasileiro – tipo Conilon

Para o cultivo de arábica, a temperatura ideal é em torno de 18 a 22°C. Para isso recomenda-se a plantação em maiores altitudes. Enquanto a produção do robusta pode ocorrer em altitudes de até 800 metros, pois as plantas aguentam maiores temperaturas, em torno de 23 a 26°C.

Estados produtores

De maneira geral e conforme o Boletim da Safra Brasileira de Café de 2021, a produção da espécie arábica é mais concentrada nos estados de Minas Gerais (MG) e de São Paulo (SP). Já o robusta é mais cultivado nos estados do Espírito Santo (ES), Rondônia (RO) e Bahia (BA).

Lavoura de café arábica, no estado de Minas Ferais

A produção de café brasileiro de cada estado, em 2021, pode ser conferida neste boletim da Conab.

Hectares e produtividade

De acordo com dados do Boletim da Safra Brasileira de Café da Conab, a área destinada à cafeicultura no Brasil, em 2021, foi de 2.200 mil hectares.

O relatório ressalta que nos ciclos de bienalidade negativa (como o ano passado), os produtores costumam realizar um manejo de tratos culturais mais intensos nas lavouras, promovendo algum tipo de poda, esqueletamento ou recepas em áreas que só entrarão em produção nos próximos anos.

Além disso, foi observado que nas últimas safras, a estabilidade na área brasileira de café tem sido compensada pelos ganhos de produtividade, representado pela mudança tecnológica observada na produção cafeeira.

A área cultivada com café arábica foi de 1.789,4 mil hectares, o que corresponde a 81,3% da área total destinada à cafeicultura nacional. A maior área com a espécie está concentrada em Minas Gerais, com 1.287,9 mil hectares, correspondendo, nesta safra, a 71,9% do total ocupado com café arábica no país.

Já para o café conilon, a estimativa foi de aumento de 2,2% na área total cultivada, alcançando 410,6 mil hectares, sendo que 375,3 mil hectares estão em produção e 35,3 mil hectares em formação. O Estado do Espírito Santo é o maior produtor da espécie no país, com 273,7 mil hectares no estado, seguido por Rondônia, com 69,2 mil hectares e a Bahia, com 41,9 mil hectares.

Representatividade no Brasil e no mundo

O Brasil é, atualmente, o maior produtor mundial de café. Hoje, o café brasileiro é um importante gerador de renda. Sendo US$ 2 bilhões anuais, 26 milhões de sacas exportadas ao ano. Acumulando, pois, mais de 2% do valor total das exportações brasileiras, correspondendo a mais de um terço da produção mundial.

De modo geral, para o agronegócio, a produção do café é um mercado que se mantém em crescimento, gerando recursos de US$ 91 bilhões ao comercializar mais de 100 milhões de sacas que, em média, são produzidas, Os dados são da Embrapa Café. Além disso, tem cerca de 8% da população mundial, equivalente a meio bilhão de pessoas, na cadeia de produção de café.

Ainda de acordo com a Embrapa Café, o mercado de café brasileiro participou com mais de 30% da produção mundial nas últimas safras. Gerando, pois, mais de 8 milhões de empregos diretos e indiretos no País, confirmando que o setor do agronegócio é o que mais emprega no Brasil.

Exportação do café brasileiro

De acordo com informações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), divulgadas pelo Hub do Café, em 2021, o Brasil exportou 40,372 milhões de sacas de 60 kg de café, obtendo US$ 6,242 bilhões. O desempenho representa queda de 9,7% em volume, mas evolução de 10,3% em receita cambial frente aos números registrados nos 12 meses de 2020.

Brasil é destaque na exportação do produto

No ano safra, de julho de 2021 a abril de 2022, as exportações brasileiras de café tiveram desempenho similar ao registrado no ano civil, com os envios recuando 16,7%, de 39,927 milhões de sacas para as atuais 33,251 milhões. A receita cambial evoluiu 30,9%, de US$ 5,055 bilhões para US$ 6,616 bilhões, ante a performance aferida nos 10 primeiros meses da safra 2020/21.

Na matéria sobre exportações do Hub do Café com dados do Cecafé, as exportações de café do Brasil totalizaram 2,809 milhões de sacas de 60 kg em abril de 2022, gerando uma receita cambial de US$ 670,7 milhões. O desempenho implica queda de 24,1% em volume, mas alta de 34,1% em valor frente ao mesmo mês do ano passado.

Desempenho

“Prestes a completar três séculos de história do café no Brasil, somos líderes absolutos no mercado mundial de café. O país é o maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor da bebida. Em 2021, o Brasil exportou 40,6 milhões de sacas de café para cerca de 120 países no mundo. Predomina, no país, a diversidade de ambientes de produção, sistemas produtivos, qualidades e sustentabilidade, o que nos consolida na posição de liderança global”, comenta Marcos Matos, diretor geral do Cecafé.

Café no terreiro

Ainda de acordo com o órgão, o café arábica foi o mais exportado no acumulado de 2021, com o despacho de 32,655 milhões de sacas ao exterior, o que correspondeu a 80,9% do total. O segmento do solúvel teve 4,032 milhões de sacas embarcadas, com representatividade de 10%. Já a variedade canéfora (robusta + conilon), com 3,639 milhões de sacas (9%), e o café torrado e moído, com 45.766 sacas (0,1%).

A Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé) exporta sua produção de café arábica para 50 países em cinco continentes. No ranking das exportações do café, a cooperativa é líder brasileira, conforme ranking do Cecafé. As exportações respondem por mais de 80% das atividades da cooperativa. “A Cooxupé é a maior cooperativa de café do mundo e também a maior associada do Cecafé em relação ao desempenho de seus embarques, como maior exportador do produto no Brasil”, completa Matos.  

Cooperativismo no Brasil: alavancando o café

Atualmente, o Brasil possui 97 cooperativas de café, sendo responsáveis por 48% da produção de café brasileiro. Geram, pois, empregos e renda, promovendo o desenvolvimento econômico e o bem-estar social às famílias cooperadas. Os dados são da Organizações das Cooperativas Brasileiras (OCB), com divulgação pelo Hub do Café.

De acordo com Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), as cooperativas têm um importante papel neste cenário e para ele, “o cooperativismo não é somente importante hoje para a cafeicultura brasileira, ele sempre foi importantíssimo, haja visto os resultados de uma cooperativa tão antiga como a Cooxupé que ao longo dos anos em sua atividade, trabalhou intensamente em benefício da nossa cafeicultura”, afirma.

Ele ainda considera que o sistema cooperativista como um todo sempre deu apoio e sustentação para a cafeicultura. “Não só com orientações, como a aglomeração das cooperativas dentro deste conjunto que é a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), mas o apoio individual a cada uma delas”, afirma.

Neste contexto, a Cooxupé está completando 90 anos de cooperativismo em 2022, englobando mais de 17 mil famílias cooperadas. A maioria delas responde por mais de 90%  como agricultura familiar. A atuação da cooperativa mineira é em mais de 300 municípios, no Sul e Cerrado de Minas Gerais, Matas de Minas e média mogiana do estado de São Paulo.

Complexo Japy, da Cooxupé, na cidade de Guaxupé

“Com relação à Cooxupé, a representatividade dela se faz não só no Brasil como no mundo, é a maior cooperativa de café do mundo e cumpre rigorosamente toda legislação, um exemplo de cooperativa extraordinária, que é um modelo que foi criado de uma forma sustentável e permanece assim”, ressalta Brasileiro.


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