Você sabe sobre os benefícios do Calcário nos cafeeiros?

Você sabe sobre os benefícios do Calcário nos cafeeiros?

Hub do Café levantou informações junto ao Departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé de Caconde. Confira!

6 minutos de leitura

A calagem é um manejo dentre os mais importantes para áreas cafeeiras modernas, pois esse manejo vem sendo empregado como indispensável junto aos cafeeiros.

Ao longo dos anos a agricultura passa por várias transformações. Assim, com base em estudos aplicados no campo, demonstrando a necessidade e qualidade de certos manejos. Um exemplo é o fornecimento de calcário (calagem).

Dessa forma, na cafeicultura vem se mostrando imprescindível. Isso porque fornece cálcio e magnésio aos cafeeiros. Além de diminuir a acidez do solo aumentando a eficiência dos fertilizantes, a disponibilidade de nutrientes para as plantas e crescimento das raízes.

Calcário nos cafeeiros

De acordo com o Departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé de Caconde (SP), estudos mostram que o fornecimento do calcário nos cafeeiros proporciona um ganho de produção.

Abaixo está um exemplo desses estudos, de 1965, feito em região de campo-cerrado. Mostrando, pois, sacas de café limpo por hectare tratado com calagem e adubação.

Figura 1. Sacas/ha de café em áreas tratadas com calagem e adubação. Fonte Rehagro 2022.

Ângelo Américo Silva de Avelar, técnico agrícola da Cooxupé, diz que embora seja um manejo com muitos anos de utilização, ainda há muitas dúvidas entre os produtores.

“Muitos ainda focam somente nas adubações com fertilizantes a base N, P e K, por exemplo, a formulação 20-05-20, esquecendo que cálcio e magnésio tem alta absorção pelos cafeeiros. E, com isso, existem grandes áreas acidificadas por estar há muitos anos sem as devidas correções”, alerta.

Assim, outro fator que limita produção dos cafeeiros é a presença de alumínio no solo, muito reativo em solos ácidos, pois é tóxico para a planta. “O alumínio se concentra nas raízes fazendo com que haja um engrossamento delas, diminuindo as raízes laterais e, por fim, dificultando absorção dos nutrientes”, conta Avelar.

Em relação a doenças dos cafeeiros, ele diz que o calcário ajuda na prevenção e manejo da ferrugem, cercóspora e phoma. Pois, o cálcio e magnésio compõem a parede celular das folhas. Sendo assim, o fornecimento de calcário ajuda as plantas ficarem mais tolerantes, com uma parede celular mais espessa.

Nesse sentido, também prevenirá possíveis escaldaduras, principalmente nas faces que recebem luz solar o dia todo. Escaldaduras são ferimentos que ocorrem pelo sol e sua utilização é como porta de entrada pelos fungos.

Análise de solo

Conforme Avelar, para corrigir solos é necessário que o produtor faça análises de solo todo ano.

Assim, para coletar as amostras o primeiro passo é separar os talhões da propriedade, observando sempre os tipos de solo, o relevo, e até mesmo o manejo da lavoura. Exemplo: produção ou esqueletada.

Esses talhões não devem passar de 10 hectares cada um. As amostras devem ser coletadas na projeção do barrado dos cafeeiros, na profundidade de 0 a 20 centímetros. É necessário em cada talhão coletar de 10 a 20 amostras simples que se integrarão em uma amostra composta. Esta, por fim, será enviada ao laboratório de análises da Cooxupé.

Após a conclusão das análises, o produtor precisa procurar o Desenvolvimento Técnico da Cooxupé de ser respectivo núcleo para fazer a interpretação.

Figuras 2. Distribuição dos pontos que deve representar o talhão inteiro e coletor de amostra.
Figura 3. Separação dos talhões.

Após a recomendação, a calagem pode ser feita entre maio e setembro. A aplicação deve ser sempre bem esparramada, para que haja maior contato com solo, sem formação de montes.

Figura 4. Aplicação do calcário.

Dados do Laboratório da Cooxupé

Figura 5. Dados de mais de 160 mil análises da Cooxupé. Fonte ODX Yara, 2022.

Avelar explica que a imagem acima representa os teores de mais de 160 mil análises realizadas no laboratório da Cooxupé no período de seis anos.

“Vemos que mais de 80% dessas análises estão com pH muito baixo e baixo, ou seja, tem necessidade da calagem”, avalia.

Isto mostra, segundo ele, que há uma grande oportunidade de aumentar a produtividade considerando o fator de correção dos solos.  “Com a elevação dos custos de fertilizantes, a aplicação de calcário e demais corretivos de solo se tornou ainda mais importante nesta safra”, observa o técnico agrícola.  

De acordo com ele, com a calagem o pH será elevado para faixa ideal de 5,4 a 6,4, em que os nutrientes nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre e boro estão mais disponíveis, conforme mostra o gráfico. “Teremos um aumento do V% que é a porcentagem de bases presentes no solo (Ca, Mg e K). O V% ideal para café segundo Boletim 100 é de 60 a 70%”.

Figura 6. Disponibilidade dos nutrientes em função do pH.

Manejo da cercóspora

A cercosporiose ataca as folhas e frutos, causando desfolha, amadurecimento precoce, queda de frutos e perda na qualidade. Está diretamente ligada à aplicação de calcário.

Dessa forma, a adubação equilibrada é a principal estratégia de controle da cercóspora, principalmente o potássio e cálcio. A relação ideal entre o cálcio, magnésio e potássio deve ser 9:3:1, respectivamente.

Conforme os dados do laboratório da Cooxupé, a maioria das análises precisa de calcário e tem excesso de potássio. Com isso, há uma condição favorável para a ocorrência de cercosporiose.

Figuras 7. Cercosporiose na folha e fruto. Fonte Rehagro 2022.

Nem todo calcário é igual

Uma informação muito importante para os produtores é que nem todo calcário é igual. Por se tratar de um produto mais barato que os fertilizantes NPK, com várias empresas que comercializam no país, há diversas opções no mercado. Por isso, a importância de comprar de uma empresa idônea e sempre exigir o laudo com as garantias do calcário comercializado.

Mas, para que ocorra a correção de solo, equilíbrio nutricional e ganho de produtividade, é necessário utilizar o calcário sob recomendação, pois há diferenças entre as relações de cálcio e magnésio. Onde no solo, a relação ideal é sempre de três partes de cálcio para uma parte de magnésio (3:1).

“O produtor deve ficar atento ao percentual de magnésio do calcário. Pois, normalmente os solos cultivados com café demandam calcários com maiores teores de Mg, devido à extração da planta. Se o cooperado utilizar um calcário com pouco magnésio, que normalmente é mais barato, vai resolver o problema da acidez, porém irá criar o problema do desequilíbrio entre cálcio e magnésio”, alerta Avelar.

Outro dado importante que deve ser observado é o PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) do calcário, pois quanto maior for o PRNT maior será sua capacidade de corrigir a acidez do solo.

Sendo assim, o calcário que tem maior PRNT é o mais fino, que reage mais rápido no solo. Mas, por ser muito fino, pode se perder parte na hora da aplicação devido ao vento (deriva), principalmente as partículas mais finas, que são as que tem maior reatividade no solo. Para evitar esta perda, o produtor pode acrescentar água ou gesso no calcário.

Para saber mais sobre os tipos de calcário clique aqui.

Figura 8. Perda do calcário pelo vento (deriva).

Formação de Lavouras

No plantio de novas áreas, o calcário deve fazer parte do planejamento. A incorporação deste produto na formação de lavouras é, portanto, necessária, já que é a única oportunidade de aplicar o calcário em profundidade.

“Esta prática proporcionará melhor desenvolvimento inicial da lavoura, contribuirá para um melhor enraizamento tornando a planta mais resistente à seca e mais produtiva”, diz Avelar.

Figura 9. Tratamento do sulco em profundidade.

Conclusões

De acordo com o técnico agrícola, um dos mais importantes manejos para os cafeeiros é a calagem.

O cálcio e magnésio, portanto, são considerados como macronutrientes secundários. Ou seja, as plantas os exigem em grandes quantidades. O calcário corrige o solo, melhorando absorção dos nutrientes e o crescimento das raízes. Neutraliza o alumínio tóxico e ajuda a prevenir doenças.

Se for comparado a outros produtos na produção de café, o calcário é um dos mais baratos e, talvez por esse motivo, geralmente não tenha tanta importância do ponto de vista do produtor. Porém cada manejo complementa o outro, buscando sempre o maior potencial produtivo da lavoura.

Para esta reportagem, o Departamento Técnico de Caconde obteve como referência o Portal Rehagro.


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